segunda-feira, 1 de julho de 2013

Sem rodeios, o fim das touradas veio com um baile

Há uma teoria de que Mike Tyson nocauteou muitos de seus adversários antes mesmo da luta começar. O primeiro e decisivo golpe vinha quando os lutadores eram postos frente a frente e, na encarada, seu olhar fulminante já desnorteava o outro lutador.

Ontem, em um Maracanã lotado, os perfilados times de Brasil e Espanha não puderam se encarar enquanto escutavam um coro vibrante a cantar o hino nacional brasileiro. No entanto, a energia que fluía no maior templo do futebol nacional naquele momento impressionou olhos, ouvidos e certamente mexeu com o jogo de pernas dos espanhóis. Fortaleceu o desafiante da hora a levar a melhor seleção do mundo à lona, sem que o primeiro apito soasse dando início ao combate.

A Espanha impôs durante cinco anos um jogo de expressões geométricas. Como mestre Picasso, pintam triângulos e polígonos milimetricamente desenhados em trocas de passes ao longo do campo. De forma inteligente, fizeram metáfora a estupidez de suas touradas: cansam o adversário fazendo-o se mover entre uma estocada e outra até que não haja forças para reagir.

Com a conquista de uma Copa do Mundo, os espanhóis já haviam ido mais longe do que a Hungria de 54 e a Holanda de 74, equipes históricas capazes de derrubar o quase sempre favorito futebol brasileiro. Aliás, era só essa conquista que faltava à Fúria.

Mas neste domingo, graças a uma marcação cinematográfica do Brasil, essa arte espanhola acabou enclausurada na sala de jantar, como a família burguesa da obra de Luis Buñuel. La Roja caiu em sua própria trampa. A Seleção também usava como metáfora a estupidez que pratica com seus touros, apertando de tal forma o time espanhol que a posse de bola, base da estratégia vencedora, se sublimou ao calor da correria de um time com mais fôlego e melhor pontaria.

O resultado, que contraria a ideia e a vontade daqueles que acham que perder um jogo de futebol pode resolver problemas  fora das quatro linhas,  é maior do que o título da Copa das Confederações. É a formação de um time e o retorno de uma identificação com sua torcida depois de um longo período de distanciamento físico e emocional.

Vitórias em campo em sintonia com as lutas fora dele que não podem e não deverão parar com a chegada da taça.  Porque a ousadia e alegria inspiraram até um protesto criativo e quase de improviso - pela "anulação da privatização do Maracanã" - durante a cerimônia de encerramento do torneio.

E se a Copa das Confederações ainda não é a Copa do Mundo, uma pena. Porque eu mesmo poucas vezes me diverti com a Seleção como desta vez. Que o melhor esteja guardado para o fim.