Mostrando postagens com marcador Boca Juniors. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Boca Juniors. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Aprendendo com os erros

É difícil identificar que alguma coisa pode dar errado.

Mais difícil é bancar que alguma coisa que pode dar errado, vai dar errado.

Agora, o pior mesmo é não aprender com o que já deu errado.

Dias antes do primeiro jogo entre Corinthians e Boca Juniors, tentei estabelecer um diagnóstico, com doses de psicologia fuleira, ainda que com o nobre objetivo de levantar por que, dessa vez, meu faro de cachorro desconfiado apontava que o Corinthians precisaria ir muito além do que fizera ano passado para conquistar o bicampeonato da Libertadores.

Hoje, após a lição, não tiraria uma linha sequer exceto a última em que apostava: "o Corinthians passa pelo Boca". Fato semelhante como quando se preenche - entre coluna 1, 2 ou coluna do meio - corretamente toda a loteria esportiva e na hora de levar o prêmio, perde-se tudo justamente pelo time do coração.

Identifiquei que o caldo poderia azedar, mas custei a acreditar.

Coisa que já havia feito várias vezes. Mas não posso dizer que aprendi e que farei diferente da próxima vez. A única coisa que sei  é que ao colocar razão e emoção lado a lado, a última acaba por prevalecer.

São as lições nunca aprendidas que incomodam mais.

Quantas vezes deixamos de acreditar naquilo que deveríamos? Quanto insistimos crer naquilo que não vale à pena?

Desdenhei o ano todo do Campeonato Paulista e foi justamente ele quem devolveu o moral para o corinthiano. Desejei que o Paulista não atrapalhasse a Libertadores e foi ele que apaziguou o azedume da eliminação. O futebol sempre ensina.

Só não aposto que a Federação Paulista tenha aprendido dessa vez que é desgastante e desnecessário um campeonato tão longo, com uma fórmula que gera desinteresse na maior parte da competição e que, em última instância, contribui para minguar ainda mais o estadual.

Como é difícil aprender com erros.

Até hoje ninguém aprendeu, mas a Libertadores ensinou mais uma vez  que a América do Sul ainda está longe, em qualquer aspecto, de outros lugares do mundo. Escudos policiais para se bater escanteio, objetos atirados ao campo, catimba, violência, cusparadas. A Libertadores continua um torneio norteado por posturas cafajestes.

Também gostaria de crer que Carlos Amarilla aprendesse com seus erros ao assistir o VT do jogo entre Corinthians e Boca. Isso se eu tivesse absoluta convicção de que foram realmente erros. Mas ainda ninguém aprendeu que a escolha da arbitragem precisa ter critérios mais transparentes e a tecnologia pode ajudar a acabar com sintomas de amadorismo no futebol. E também com impedimentos mal marcados. E como gostaria de acreditar que as ameaças de punições da Conmebol não são mais um ato teatral no interminável jogo de cena dessa instituição.

Por último, gostaria muito de dizer que a torcida organizada, a polícia, os dirigentes e todos os demais envolvidos, aprenderam com o triste caso do menino Kevin, morto por um sinalizador. Mas, ontem, minutos antes do fim do jogo entre Corinthians e Santos, as luzes e a fumaça vindas da  mesma torcida corinthiana eram o claro sinal de que a lição não foi aprendida.

Mais uma vez.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Corinthians no divã: balanço psicológico antes do mata-mata

A fase mais legal da Libertadores vai começar.

O mata-mata é a parte mais divertida porque é justamente aquela que oferece as maiores emoções. É o momento da competição em que a pressão psicológica atinge o ápice para jogadores, treinadores, juízes e, claro, o torcedor. E nós gostamos da emoção porque ela mexe com nossas cabeças. Então, tentei entender justamente o que passa pela cabeça do torcedor corinthiano nesse momento que, certamente, vai proporcionar fortes emoções.

Essa é a primeira vez que o Corinthians vai para o mata-mata sem o peso de não possuir um título da competição. Se antes era preciso controlar o nervosismo e a pressão por uma taça, o desafio agora é evitar o relaxamento, o comodismo e, principalmente, aquilo que o jornal de hoje destaca como uma das preocupações do treinador Tite: a soberba.

Tem gente que talvez nem questione essa condição. A mim me parece bastante curioso. Resolvi colocar o Corinthians no divã, já que não é a primeira vez que vejo um paciente do futebol superar o complexo de vira-lata e, rapidamente, enfrentar o risco de cair em outra patologia: a síndrome da superioridade, batizada também por estudiosos de "mal de Ceni".

Histórico

A seleção brasileira foi um dos primeiros pacientes, ou melhor, times a serem diagnosticados com complexo de vira-lata. A conclusão se deu após a clamorosa derrota para o Uruguai em 1950. Porém, depois de conhecer o fundo do poço, vieram 3 títulos em 4 Copas (de 58 a 70) e a Seleção mergulhou em seu "complexo de superioridade" que a levou um estado letárgico profundo. Neste estado, acreditou que só a camisa amarela era capaz de jogar sozinha. Só voltou do coma em 94 ao assumir uma postura bem menos pretensiosa e ganhar a Copa nos EUA.  Nos pênaltis e com três volantes.

Corinthians

O Corinthians também passou por um evento traumático. Aliás, trauma na Libertadores nunca faltou. Dupla-eliminação para o Palmeiras, para o River, a maldição dos laterais e o vexame do Tolima. Todas essas altas doses de "inferiorismo" foram contra-golpeadas com o título invicto da competição, seguido por um Mundial no Japão e um time que se mantém no auge. E é justamente essa alternância de emoções que pode trilhar o caminho ao perigoso penhasco da soberba.

Os elevadores, corredores, ônibus, ruas e portarias de prédio são os divãs onde os corinthianos expõem suas preocupações. E o parecer geral é: no papel, o time melhorou em relação ao ano passado. Perdemos Leandro Castán, mas ganhamos Paulo André e Gil (grande surpresa). Saíram Liédson e Alex, mas trouxemos Guerrero - herói do Mundial e Alexandre Pato que, se ainda não mostrou tudo que se espera dele, tem estrela suficiente para fazer seus gols com constância de artilheiro. Melhor ainda. A exceção do goleiro, parece que o time possui um reserva confiável para cada posição. Mesmo assim, paira uma sensação comum: não há a mesma pegada do ano passado.

Os mais otimistas dirão que é uma acomodação natural de quem sabe a hora de acionar as turbinas ao máximo quando necessário. O mais desconfiado, por sua vez, pode pensar que os apagões podem aparecer em algum momento inoportuno e colocar tudo a perder. Tite, escaldado psicólogo da bola, trabalha para evitar a segunda hipótese.

Mas como toda questão psicológica, há sempre os fatores externos que desencadeiam o processo.
Então, saindo um pouco de olhar o próprio umbigo, vamos a eles:

1) O nível técnico dos outros times não é intimidador. Estava muito empolgado para assistir Atlético-MG e São Paulo, mas acabei decepcionado com o número de passes errados. A partida valeu mais pela emoção e correria. Tecnicamente, ficou devendo. O Galo é, sem dúvida, o melhor time da primeira fase, mas pode sofrer com a pressão de não chegar tinindo na hora decisiva, além do peso da "obrigação" de quem nunca venceu uma competição dessa. Por experiência própria, sabemos que o equilíbrio psicológico - ele outra vez - será fundamental. Esse não é um ponto forte do treinador Cuca.

Aliás, fala-se muito dos times brasileiros, mas tirante o Galo nenhum apresentou grande futebol. Arrisco a dizer que até agora o Fluminense é decepção pelo tanto que se badalou. O Corinthians fez o seu melhor jogo do ano contra o Tijuana no Pacaembu. Nos outros, entre alguns completamente atípicos como na Bolívia e México, levou em banho maria, com o regulamento debaixo do bigode. Tudo isso leva a crer que, entre os brasileiros, o Corinthians é um time arrumadinho como nenhum outro.

E como o costume da imprensa e, consequentemente, da torcida brasileira é ignorar a maioria dos times de fora, estar a frente de nossos compatriotas pode levar o imaginário do torcedor a uma condição mental de "consciência do favoritismo", fenômeno pelo qual o Barcelona tem passado e, por que não dizer, sofrendo nos últimos anos. Ressalva: não faço aqui uma comparação futebolística direta entre os times de Corinthians e Barcelona, apenas de situações. Enquanto Barça e Real se roíam para um eventual confronto direto, acabaram vítimas de um Bllitzkrieg sem precedentes por parte dos alemães.

2)  Muito ajuda quem não atrapalha. E o Paulistão, definitivamente não ajuda. Se não bastasse expor os principais jogadores ao desgaste antes de uma partida decisiva em La Bombonera, o campeonato paulista colocou Corinthians e Ponte Preta frente a frente outra vez. E a Macaca, que outrora, foi o portadora da mensagem salvadora que dizia: "troquem o goleiro!", agora foi atropelada e ignorada como se não houvesse mais qualquer lição a ser tirada.

3) Como terceiro fator, elenco aqui a questão que talvez esteja um pouco além de nossas cabeças: a parapsicologia. Antes do mata-mata, fiz diversas projeções para tentar prever o adversário do Corinthians nas oitavas. Emelec era favorito e até o Palmeiras poderia aparacer mas, rigorosamente, em  nenhuma delas surgia o Boca Juniors. Jamais contei que o limitadíssimo time do Tigre passasse. Ao saber que o vice-campeão do ano passado cruzaria nosso caminho logo de cara bateu uma ansiedade diferente. Para quem acredita em coincidências, a explicação é fácil embora o evento em questão possa conter, na verdade, um aviso cifrado dos deuses de que o futebol continua sendo o esporte do inesperado. Dito isso, reservo-me inclusive ao direito de não levar em consideração a atual fase do Boca.

Porque o fantasma do inesperado pode estar em um cruzamento desses. Ou no quique de um gramado sintético que colocou fim a 16 jogos de invencibilidade na competição. O inesperado é até capaz de tirar Messi de suas plenas condições na reta final de uma Liga das Campeões e fazer o favoritismo pender totalmente para o outro lado. O inesperado também pode contrariar a certeza de que um sistema de jogo vai sempre funcionar.

Ano passado, Tite ensinou que no confronto direto há três fatores decisivos: técnico, tático e psicológico. O psicológico me preocupava mais. Temia por aquilo que esperava: erros individuais, expulsões, descontrole e mais uma Libertadores indo pelo ralo. Agora, tecnicamente os times são nivelados, taticamente estamos um passo adiante e chutamos longe a sina derrotista. Mas o psicológico segue consternando. Preocupo-me com o que uma equipe planejada, experimentada e que já testou muitas variáveis pode, ainda, não ter encontrado. Imagino que Tite deve fundir a cachola imaginando todas as variáveis possíveis para que nada lhe escape do treino, da preparação. Mas é sabido como se comportam os donos da situação quando alguma coisa lhes foge ao controle.

4) Por último, pergunto: apontar que a soberba e o excesso de confiança merecem atenção não é justamente assumir a própria condição de superioridade?

Fim da sessão. Sobram hipóteses e faltam certezas. Futebol nem Freud explica. Ao torcedor corinthiano, o papo reto: o Corinthians deve saber que para chegar a final de uma competição como essa não basta ter vencido a anterior. Agora jogando bem e com a mesma vibração do ano passado, dá para deixar esse papo de soberba e apostar:  Corinthians passa pelo Boca e segue forte na competição.